A gratidão que transforma e direciona a mente
- Karla Peluci

- 24 de nov.
- 3 min de leitura

A ingratidão é uma das mais silenciosas estratégias espirituais para nos roubar a paz. Muitas vezes, diante das dificuldades, deixamos que o descontentamento ocupe o lugar que deveria ser preenchido pela gratidão. Olhamos para o que falta, esquecendo de tudo o que Deus já fez por nós. Mas a verdade é que, quando o coração pesa, a primeira atitude deveria ser exatamente o contrário: lembrar, agradecer e se alegrar nas obras do Senhor. Quantas bênçãos já recebemos, quantos livramentos passaram despercebidos, quantas misericórdias foram renovadas sobre nós todas as manhãs, quanto favor já nos alcançou.
É sobre isso que Jeremias falou quando, em um dos momentos mais sombrios de Israel, declarou: “Quero trazer à memória aquilo que me dá esperança” (Lamentações 3:21). Ele escreveu essas palavras em meio à destruição de Jerusalém, à dor, ao exílio, ao cenário caótico de um povo que parecia sem futuro. E ainda assim, em meio à ruína, ele toma uma decisão espiritual: lembrar da fidelidade de Deus. Ele escolhe voltar a mente não para o que perdeu, mas para quem Deus sempre foi. A esperança nasce quando a memória obedece à fé.
Essa é uma verdade espiritual poderosa: a mente é um campo de batalha, e somos chamados a comandar nossos pensamentos, e não sermos comandados por eles. Por isso Paulo diz para levarmos “todo pensamento cativo à obediência de Cristo” (2 Co 10:5). Pensamentos negativos, comparações, queixas e dúvidas são como setas inflamadas — se não forem rejeitados, moldam uma mentalidade inteira. E uma mentalidade errada pode atrasar destinos que Deus já preparou.
Israel no deserto é o maior exemplo disso. A jornada da Terra Prometida poderia ter levado cerca de 11 dias, mas durou 40 anos. Não foi por causa da distância. Não foi o deserto. Não foram os inimigos. O que os aprisionou foi a mentalidade. Eles viram o mar se abrir, mas murmuraram por falta de água. Comeram maná enviado do céu, mas reclamaram do cardápio. Testemunharam milagres diários, mas escolheram lembrar apenas das dificuldades. A mentalidade de resmungar, reclamar e olhar apenas para o que falta fez com que um povo liberto vivesse como escravo.
E isso nos alerta: a gratidão liberta; a murmuração aprisiona.
A mentalidade certa, segundo Deus, não é negar os desafios, mas lembrar das vitórias. É parar, respirar e dizer: “Se Deus me sustentou até aqui, Ele não vai me abandonar agora.” É abrir um “livro de lembranças” no coração e folhear tudo o que o Senhor já fez. Cada porta aberta, cada oração respondida, cada detalhe que parecia pequeno mas hoje percebemos que era providência. Porque quando escolhemos lembrar, automaticamente escolhemos confiar.
Nós amamos fazer nossos filhos felizes — e Deus também ama nos fazer felizes. Ele não nos dá tudo que pedimos, mas nos dá tudo que precisamos. Ele não nos poupa de todo deserto, mas nos guia por cada um deles. Ele não nos livra de todas as lutas, mas nos garante vitória sobre cada uma quando caminhamos em fé.
Por isso, nossa atitude importa. Nosso comportamento glorifica a Deus não apenas quando está tudo bem, mas também diante dos desafios. Gratidão é honra. Gratidão é fé. Gratidão é maturidade espiritual. E toda vez que nos sentimos tentados a reclamar, a murmurar, a nos desesperar ou a duvidar, a resposta deveria ser a mesma que Jeremias nos ensinou:trazer à memória aquilo que nos dá esperança.
Porque quem lembra do que Deus fez, jamais duvida do que Ele ainda vai fazer.




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